terça-feira, 18 de junho de 2013

Protestos engajam manifestante de 60 anos: "Não são só os jovens"

Milhares de pessoas se reuniram no último sábado, enquanto jogo da Seleção Brasileira era exibido numa praça da cidade.

       Em geral eles estão em silêncio, alguns com as bocas tampadas por esparadrapos com a inscrição "gol", outros com cartazes toscamente improvisados com cartolinas. São centenas ao longo do dia e seu protesto mudo contrasta com a festa barulhenta numa enorme área cercada pela prefeitura para shows e acompanhamento dos jogos da Copa das Confederações. O cenário é a Praça da Estação, em Belo Horizonte.
       — Sabe a mosca do Raul Seixas? Não adianta nos dedetizar, você afasta uma e logo vem outra para em meu lugar.
       Este o primeiro recado que Thaíssa Gonçalves, 17 anos, aluna do 3º ano do ensino público, dá para falar de seu papel no protesto. E ela faz questão de registrar: — Não tenho partido político, só uma grande indignação por ver tanto dinheiro mal investido e ao mesmo tempo nosso país precisando de tanto investimento na educação, saúde e segurança — reclama.
       As centenas de manifestantes se transformam em milhares no horário de maior concentração. Enquanto cerca de duas mil pessoas assistiam o jogo da Seleção numa arena montada na Praça da Estação, oito mil caminhavam do lado de fora protestando.
       A diferença em relação a Brasília e Rio de Janeiro é que não há confrontos entre PM e manifestantes. Apesar de o grupo, que se organiza via Facebook, desafiar liminar expedida pela Justiça mineira impedindo bloqueio de vias públicas durante a Copa das Confederações. O comando da polícia optou por viabilizar a manifestação.
       Ao lado de Thaíssa, ouvindo a entrevista, a funcionária pública e voluntária da Fifa Regiane Pinheiro discorda do protesto. Ela curte a verdadeira Ilha padrão Fifa montada com grande palco para shows, arquibancadas para 4 mil pessoas e além de estandes de multinacionais.
       — É um investimento que está mudando a cidade com grandes investimentos que não sairiam sem a Copa, traz o dinheiro dos turistas e ainda dá divertimento gratuito para a população, os jovens muitas vezes não entendem isso — defende.
— Não só os jovens — reage, ao lado, Sebastião Francisco da Silva, 60 anos. O armador também segurava um cartaz e justificou sua presença na praça: — É uma vontade individual que tenho de reagir ao que estou vendo nas ruas. Não tenho partido, não sou de sindicato, mas não quero gastos com futebol, quero hospital para minha velhice — argumenta.
       Thaíssa e Sebastião, ao contrário de Regiane, rejeitam a festa nobre da Fifa. A estudante que citou "A mosca", gosta de se expressar por música, já que seu cartaz tinha a frase "afasta de mim este cale-se" e aproveitou o pequeno debate que se formou durante a reportagem e se retirou cantando a música de Cazuza: "Não me convidaram para esta festa pobre, que os homens armaram para me convencer a pagar sem ver".
       Regiane sorriu, deu de ombros, e partiu para orientar um torcedor que trouxe um quilo de alimento, a entrada para os shows.
       Este é o quadro, que promete se intensificar, caso a Seleção Brasileira venha jogar, como primeira do grupo, em Belo Horizonte.

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