terça-feira, 5 de novembro de 2013

O prazer de viver redescoberto nos estudos

Atualmente, uma novela muito vista pelos brasileiros está apresentando o romance vivido por um casal de idosos. E assim como na ficção, na vida real é possível encontrar muitos casos de pessoas acima dos 60 anos que estão redescobrindo o prazer em viver. Não só nas questões relacionadas aos sentimentos, mas também no que se refere ao aprendizado e conhecimento.
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As turmas de ensino fundamental e médio não são mais compostas apenas por crianças e adolescentes. Atualmente um novo cenário é criado devido à Educação de Jovens e Adultos (EJA), uma modalidade destinada as pessoas que não tiveram acesso ou não puderam concluir seus estudos na idade escolar.

Somente em Maringá a EJA atende 33 salas de aulas, entre escolas e instituições públicas localizadas por toda a cidade. Funcionando nos períodos da manhã, tarde e noite com aproximadamente 800 alunos.
A professora Andréia Moreira Quirino lecionou durante 18 anos para crianças e sente-se realizada no desafio de alfabetizar turmas da terceira idade. “Estou há quatro anos com o mesmo grupo de senhoras, desde minhas primeiras semanas de aula me apaixonei pelo ambiente de trabalho. Alunas que chegaram aqui sem ao menos conseguir segurar o lápis, no final deste ano irão participar da formatura referente ao 5º ano”, comemora.
As pessoas que buscam o aprendizado após os 60 chegam, em sua grande maioria, sem nunca terem frequentado uma escola. Cada realidade uma história.
“Meu interesse pelos estudos surgiu depois que sofri um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Com o ocorrido perdi os movimentos da mão direita, justamente a que escrevo. Para não atrofiar era necessário exercitar o punho e os dedos, e foi escrevendo que eu consegui me recuperar”, conta Adelícia Lima dos Santos, 67 anos. Ela que utiliza dois ônibus do transporte público para chegar à escola, se orgulha ao falar que não precisa mais perguntar o que está escrito no letreiro do veículo, Adelícia já lê sozinha.
Nazaré Suriana Favaro, 63 anos, nunca foi à escola por proibição do pai que acreditava que a filha aprendendo a escrever seria apenas para enviar bilhetes a namorados. “Tive uma infância muito sofrida, me casei e não tive coragem de contar ao meu marido que não era alfabetizada. Quando ele descobriu foi embora de casa e me deixou com quatro filhos pequenos para criar, mas eu venci e terei o maior orgulho de convidá-lo para minha formatura”. Mesmo com todas as dificuldades, Nazaré sempre motivou seus filhos a estudarem, hoje são todos graduados no ensino superior e estão felizes pela conquista de sua mãe.
A aluna Luiza Boer Ribeiro, 71 anos, é conhecida como a bagunceira da classe por ser uma senhora cheia de energia. “A escola é a minha casa, minhas companheiras de sala são também minhas amigas, sempre viajamos juntas, vamos para bailes e com todo o aprendizado que tenho aqui me sinto uma pessoa muito mais viva”. Luiza se forma este ano e tentou convencer a professora a reprová-la só para continuar estudando.
“Lecionar para alunas tão dedicadas é um presente. Diariamente não sou apenas eu quem ensino os processos de aprendizagem para elas, mas também recebo lições de vida e superação com a persistência dessas senhoras”, enfatiza a professora.
Andréia destaca que as famílias devem incentivar as pessoas da terceira idade a buscarem o ensino. “Não é porque não vão mais para o mercado de trabalho que os idosos não precisam do conhecimento. Além do ler e escrever, ao frequentar a sala de aula eles participam de atividades extra classe, se socializam, deixam as preocupações de lado, e o mais importante, mantém o cérebro ativo e rejuvenescendo a cada dia”.
PERSEVERANÇA. Alunas da EJA com a professora Andréia, mulheres dispostas a aprender sempre mais

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